#5. O menor do Reino de Deus (Lc 7.24~28)

Vivendo o Reino de Deus na Igreja – Pr. Anderson Farias

Senhorio de Cristo “versus” senhorio humano

Lendo o livro “Credo. Comentários ao Credo Apostólico“, de Karl Barth, esse trecho é preciosíssimo pois estabelece a diferença entre o Senhorio de Cristo e o senhorio humano. Vale a pena dar uma lida e refletir…

Que Jesus Cristo é o nosso Senhor significa em primeiro lugar que Ele tem a autoridade e o poder sobre nós que um Senhor tem sobre seus servos. Ele os ensinava como tenho autoridade (ἐξουσία), poder, liberdade sobre eles (Mt 7:29). Ele requer seus diretos sobre nós, Ele comanda, Ele dirige e dispõe sobre nós. Mas, “servos” na Escritura, são sempre escravos: eles pertencem ao seu senhor; eles não têm nenhum direito próprio, não são pessoas independentes perante ele; não agem sob suas próprias responsabilidades, mas estritamente sob as dele. Ele pagou por eles para passar a posse e o serviço de um outro para o seu. Assim ele tem interesse neles como sua propriedade. A preservação deles é o que lhe interessa. E é agora que entra em vigor que o nome “Senhor”, aplicado a Jesus, é idêntico ao nome de Deus. Esta pretensão alarga a concepção de senhorio num sentido em que não é humanamente possível para nós formarmos uma ideia. Todo senhorio humano tem um começo humano; é um senhorio que é derivativo, que veio à existência em um ponto no tempo, e a esse grau não tem nenhuma influência inevitável sobre a nossa existência. O Senhorio de Cristo, entretanto, é o Senhorio do Criador de nossa vida como a vida daqueles que nEle tem sido salvos do pecado e da morte. Portanto, mesmo se nós reconhecemos isto como tal ou não, é o Senhorio que diretamente tem influência e envolve nossa verdadeira existência, um Senhorio de tal natureza que nós não conseguimos apelar contra nem na mais alta corte, porque sem Ele nós não existiríamos, ou, se conseguíssemos existir, estaríamos perdidos. Ademais, todo senhorio humano está limitado interiormente pela liberdade de pensamento, de consciência e de coração por parte dos servos. É sempre um caso de tirania execrável quando o senhorio humano não respeita este limite, quando ele não estabelece mais limite para si como pretendendo ser um senhorio divino. Mas o Senhorio de Cristo insiste em ser real e devidamente o Senhor (e até este ponto não há trégua) em nossos livres e mais secretos pensamentos, pois o seu Senhorio não se estabelece apenas sobre nossas palavras e ações, mas sobre nossos corações e consciências. Finalmente, todo senhorio humano tem um prazo e um fim (mesmo que não seja nada mais do que a morte do regido) além do qual ele seguramente não pode prosseguir. Louve-se e agradeça-se a Deus por isso! devemos dizer, como senhorio sobre a vida e a morte. Porém, do Senhorio de Cristo a declaração (Jesus Cristo, nosso Senhor) confirma-se boa, confirma-se legitimamente boa: “Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1:33). Pois em contraste com todos os outros senhorios, este é o único verdadeiro e o único efetivo Senhorio. Como Reino de Deus (βασιλἐια τοῦ θεοῦ) ele é o reino do qual todos os outros são apenas esboços insignificantes e corrompidos. Subsiste, então, enquanto todos os poderosos (corretamente, todos eles) estão sendo derrubados de seus tronos (Lc 1:52). Seus súditos, se eles realmente conhecem as coisas que pertencem à paz, necessitarão orar e suplicar constantemente por suas existências mais uma vez estabelecidas. Teu Reino chegou!

in BARTH, Karl. Credo. Comentários ao Credo Apostólico. Fonte Editorial, São Paulo, 2010, págs 63,64